Brincando de padeira




Imaginem uma mulher de 28 anos, que dedicou a maior parte do seu tempo de vida a estudar: Primeiro grau (7 anos) segundo grau (6 anos) e graduação (5 anos). Façam nas suas cabeças a imagem de uma Colombiana (Bogotana) socióloga, que gosta de ler sociologia e de pensar em aqueles problemas complexos da sociedade que a sociologia gosta de fazer ainda mais complexos. Agora bem, imaginem que essa guria foi para o Brasil a fazer um mestrado em Sociologia Política, e que o governo Brasileiro lhe deu uma bolsa de estudos e paga-lhe mensualmente o dinheiro suficiente para se dedicar exclusivamente a estudar. Tentem recriar nas suas cabeças a rutina cotidiana daquela mulher. Terão que incluir várias horas na frente do computador lendo, pesquisando e escrevendo. Mais umas mergulhando em livros de sociologia densos carregados de conceitos complexos e quase não entendíveis (a maioria inúteis). Muitas outras horas sentada numa cadeira de madeira dentro de uma sala de aula, escutando professores diferentes falando sobre temáticas diversas. Algumas poucas horas deveram ser ocupadas caminhando, correndo ou nadando, para que os músculos e o corpo todo não se esqueça de funcionar, e claro algumas outras dormindo e se alimentando para não virar maluca ou ficar doente.

Muito bem, agora vocês têm direito a dizer, mas que chato! Pois é. mas a verdade é que essa mulher também curte as lindas praias da ilha na qual mora, vai para a balada a sambar algumas noites e até vai ao teatro e ao cinema no seu tempo livre. Mas de certa forma a vida dela tem uma cor de academia o tempo todo. Ou seja que fugir do mundo acadêmico enquanto estuda-se um mestrado, ainda que seja numa ilha paradisíaca do Brasil, não é fácil, realmente é quase impossível. Beleza! Pensem então no que essa guria poderia fazer para fugir daquele mundo intelectual meio chato que a invade diariamente. Pois brincar de padeira! Sim, isso mesmo, de padeira, daquelas que fazem pães.

Já tentaram brincar com massa, farinha, ovos, açúcar e um forno? É realmente demais. Vocês se esquecem de Giddens, da globalização, da participação, da democracia, do poder, do aquecimento global, dos trabalhos finais das disciplinas, do projeto de pesquisa, da sociologia e da universidade. E assim vocês direcionam suas energias e atenção em novas coisas: na massa que não pode ficar muito seca, nem pode grudar nas mãos; na mistura perfeita de aveia, de gergelim, de farinha integral, de sal e de ovos; na temperatura adequada do forno e nos tempos perfeitos para o crescimento da massa.

A força empenhada em brigar com autores polêmicos, em escrever e apagar uma e outra e outra vez uma mesma ideia numa página em branco ou em compreender com detalhes um problema sociológico específico, termina sendo usada em brigar com a massa para ela crescer o necessário, em amassar com a delicadeza e a força certa para criar os pãezinhos ou em esperar atentamente perto do forno para girar a forma e assim assar todos os pães na mesma proporção.

Brincar de padeira é massa! As mãos ficam cheias de farinha, e claro as vezes também a cara e a roupa, mas os padeiros têm licença para isso, né?. Os pães podem ser do tamanho, da forma e do recheio que eu quera. E o melhor de tudo a casa fica com aquele cheiro gostoso de pão quente e posso comer e comer pãezinhos feitos por mim com um bom chá ou café quente, batendo um papo legal com uma amiga. Assim pouco a pouco vou voltando a enxergar o mundo com olhos de estudante e socióloga e mestranda e vou deixando meu papel de fazedora de pão, até quando os pães se extingam do balaio da cozinha e eu precise escapar por algum momento do meu eu acadêmico e virar uma simples, mas muito feliz padeira.


Comentários

  1. Hmmmm! E ficam deliciosos, diga-se de passagem....
    "Brincar de padeira é massa!"
    hehehe. Adorei.

    Beijos!

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