TURNING POINT


Chegar ao ponto em que tudo é possível. Um ponto cheio de opções, de caminhos, de portas esperando para serem abertas. Milhões de opções querendo serem levadas em conta. Nenhuma obrigação definitória. Nenhuma resposta pronta. Só perguntas em aberto e um leque de possibilidades. Procurar as portas que se parecem com aquelas que já foram abertas antes. Percorrer novos caminhos que lembram os já andados. Melhor esquecer tudo e recomeçar de novo. Se jogar de olhos fechados em qualquer caminho incerto. Escolher o que nunca antes se conheceu. Jogar fora o familiar, o seguro, o normal e o claro. Atacar o desconhecido como uma fera ataca sua presa. Reinventar uma trilha nova, diferente, pessoal e única. Passear por lugares jamais visitados, falar com pessoas totalmente diferentes, se jogar nos braços de quem se dispor a dar um ótimo abraço sem nada em troca. Cheirar novos ares. Esquecer. Apreender de novo.

Abandonar as roupas usadas que já tem a forma do nosso corpo. Sair nu. Esquecer a academia, o estudo, a formação. Fazer algo totalmente diferente. Viver de pão, afagos, pedaladas e boas risadas. Não se importar mais com aquela ideia ofegante de querer mudar o mundo. Não mudar nada. Mudar apenas a própria vida, a ideia de vida e a ideia de sim mesmo. Dedicar boas semanas a fazer um estante novo para todos livros a serem lidos. Ler em cada esquina. Ler de manhã e de tarde. Ficar a noite toda acordada lendo. Ler no ônibus, na praia, deitada na cama. Ler poesia a viva voz. Ler gritando, ler cantando, ler sussurrando no ouvido de quem está do lado.

Chegar num ponto onde tudo é possível. Escolher voltar e fazer tudo de novo. Viver os mesmos erros, os mesmos desamores, sofrer pelas mesmas razões. Ser feliz nos mesmo momentos com as mesmas pessoas. Ou talvez escolher um rumo incerto. Escolher novos amores, apostar pelo desconhecido, torcer porque dessa vez dê certo, ou errado, tanto faz, apostar de novo. Jogar pela janela o telefone, o relógio e as normas. Brincar de criança. Fazer de conta que tudo é um jogo, nada mais verdadeiro e sério que o jogo para a criança. Acordar cedo e ficar umas horas só pulando na cama. Acordar bem tarde e esquecer de levantar, esquecer o mundo, esquecer a vida.

Escolher de propósito a direção errada. Aquela que todos falaram para não entrar. Assumir os erros. Apreender de novo. Rir da falha, do deslize e do engano. Pensar que o errado é mais certo que o certo. E errar várias vezes por dia. Falhar sem ferir ninguém. Errar só se divertindo. Só se descobrindo, se reacomodando e se refazendo. Chegar no momento em que de novo tudo conflui, em que tudo faz sentido, mas já não se sente como antes. Um ponto em que novos sentidos devem ser inventados, escolhidos, vividos, criados, compartilhados. 

Fazer sentido, ou melhor esquecer do sentido. Fechar os olhos sentir o coração batendo, os sentidos se abrindo, o espirito até agora preso saindo apressado, respirar fundo, sorrir sabendo que de alguma maneira tudo vai dar certo. Virar 360 graus, virar de novo devagar e depois bem rápido. Sentir o vento que vem justamente dessa porta meio aberta. Colocar um dedo e outro, empurrar com toda a mão e pouca força, dar um passo e logo outro e outro. E sem saber como, porque e quando, escolher o caminho que estava te esperando com os olhos fechados e o coração bem aberto. Acreditar de novo em que tudo sempre dá certo.

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