A Felicidade?



Você trabalha e economiza um dinheiro trabalhando alguns anos para pagar as passagens. Se mata escrevendo um projeto decente (ou indecente) e estudando para passar num mestrado lá no sul do continente.

Sai do país deixando atrás quase tudo e carrega suas malas, seus sonhos e suas energias rumo a outra vida. Passa três anos estudando, aprendendo e desaprendendo outra língua, assistindo aulas malucas de sociologia e ciência política, dormindo entre livros, xerox e PDFs chatos. Passa dias falando, até no café da manhã (!), de autores reconhecidos e desconhecidos. Filosofa, pensa, discute, escreve, lê, sai para festa, dança, aprende, esquece, vai para praia, reinventa uma rotina, acomoda-se, curte.

Inventa um tema de pesquisa. Lê tudo, absolutamente tudo sobre o tema, corre atrás de livros de autores, de pesquisas, lê em inglês, em francês, e quase em qualquer outra língua... Empolga-se... Sai viajando para fazer trabalho de campo. E faz um campo legal, consegue algumas entrevistas ótimas, outras ruins, conhece pessoas maravilhosas e histórias incríveis. Porém, no final (ou quase no começo) se dá conta de que desenhou mau sua pesquisa, escolheu um tema errado, um problema insignificante e uma metodologia desastrosa! Mas já era, não dá muita bola nisso e ajeita, ou melhor enrola, pelo caminho.

Volta do trabalho de campo e fica horas e horas sentado na frente do computador. Vai para a biblioteca, lê novos livros, escreve, apaga o que escreve e reescreve de novo. Não acha nenhuma forma possível de organizar toda a bagunça que você mesmo planejou e criou: tenta dar forma a algo que não tem pés nem cabeça. Depois de várias tentativas e alguns meses de enrolação você cai na realidade. Se dá conta de que não vai conseguir fazer o que você gostaria ou queria, pois desde o começo tudo estava errado. Merda! Depois de alguns drinques, dramas e xingamentos, você pensa “tanto faz”... Agora o objetivo é terminar do jeito que for e tentar curtir a vida sem se cobrar a cada instante que poderia ter terminado esse negócio do mestrado e da dissertação há alguns meses e de uma melhor maneira . Terminar do jeito que for, mas terminar esse é o ponto!

Passa a dormir poucas horas, trabalha feito um condenado por 15 ou 16 horas no dia. Escreve, lê organiza, transcreve, inventa, pira, esquece, tenta lembrar, mente um pouco, bebe café e um pouco de vinho, inventa mais um pouco. Dorme, acorda, escreve mais um pouco, toma café, pira e assim um dia, sei lá como, você finalmente termina. Ai vai você com seu documento mal feito, com sua pesquisa cheia de erros de vácuos e incoerências e dá a cara para a Banca com um pouco de vergonha e de resignação. Fecha os olhos contêm a respiração e vomita em 20 minutos o que tem para oferecer. Incrivelmente e quase milagrosamente a Banca gosta do seu trabalho, acham ele “redondinho”, bem trabalhado e até acham que você escreve bem (what????). Eles não reparam nos erros fatais que você bem conhece e acham “genial” o que você considera óbvio e evidente. QUE SORTE! Você sai da defesa com uma certa decepção mas feliz da vida, porque finalmente terminou essa PORRA. Enche a cara vários dias e dorme durante um século ou quizas dois.

Devagar e sem saber exatamente quando, você vai se libertando dos laços que o prendem com a universidade, com a academia, com a cidade onde estudava e começa a se desprender de livros, de xerox, de rotinas que por algum tempo foram prezados tesouros e que agora não são mais que pesadas cargas. Você se libera de papéis, de roupas, de coisas sem valor e com valor, se desfaz de quase tudo e faz uma nova mala com novas coisas úteis. Sai pelo mundo meio perdido, meio encontrado, sem muitas expectativas, com poucos objetivos, sem caminho mas com um rumo e a melhor das companhias.

Um dia qualquer você acorda e está vivendo outra vida, uma com outro sentido. Qual? Sei lá, mas outro sentido, já não mais essa coisa chata da academia, do mestrado, da dissertação. Mas só depois de tudo, e graças àquele esforço e aquela loucura, você encontra a felicidade numa praia qualquer, numa cidadezinha qualquer brincando com uma bolinha de contato, tecendo pulseiras de miçanga, tocando violão, lendo literatura, curtindo um pôr-do-sol na beira do mar... amando e sendo amada!


Comentários

  1. Ah, a felicidade!
    Estou contando os dias para aproveitar plenamente a minha também! Estou mega feliz por ti, e claro com muita saudade!!!
    Beijão!

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  2. Não quero mais fazer mestrado

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  3. Não quero mais fazer mestrado

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