Falando de corrida

Um bom amigo recomendou-me um livro (um pouco light mas interessante) de Haruki Murakami chamado “Do que eu falo quando eu falo de corrida” ou “De qué hablo cuando hablo de correr” em espanhol. Para me convencer ele disse: é um livro de um escritor japonês, faz mais de 25 anos que ele escreve e corre maratonas, ele faz triátlon também, o livro fala da sua experiência como corredor. Beleza, comprei o livro alguns dias depois, e o li em menos de uma semana (eu poderia tê-lo lido num dia só, mas decidi operar com o princípio de “economizar livro” para que o prazer de lê-lo não se esfumasse rapidamente e assim ter um pequeno deleite cada noite durante mais tempo).

Murakami é um atleta com todos los juguetes corre uma maratona a cada ano desde 1982 e tirando alguns poucos anos em que algumas coisas não deram certo, ele tem corrido 27 maratonas até hoje. Wuau!!!. Seu livro conta um pouco sobre o que correr significa para ele, ou melhor, o que ele significa para o jogging. Ele descreve alguns momentos de seus treinamentos, de seus sentimentos no meio das competições, fala da relação entre a corrida e o fato de escrever livros e sobre mais umas pequenas coisas. Na verdade não diz nada novo, mas o que diz está bem escrito. Porém tenho que aceitar que sou suspeita para falar porque a corrida é parte da minha vida cotidiana e me senti muito, mais muito refletida nas suas palavras.

Murakami corre seriamente, ou seja, “sessenta quilômetros por semana...ou dez quilômetros por dia, seis dias por semana assim ele percorre duzentos e sessenta quilômetros todo mês e as vezes até trezentos. Bom, eu que sou uma pessoa normal só corro 30 ou 40 quilômetros por semana, ou seja, dez quilômetros por dia, três ou quatro dias por semana, que são 160 quilômetros por mês. Na verdade nunca faço contas da distância que percorro, eu sou mais ligada ao tempo, quase sempre corro uma hora, as vezes um pouquinho mais, especialmente quando estou muito empolgada ou com raiva.

A corrida para mim é terapêutica, nada melhor do que correr para suar a gripe ou a raiva. Quando estou com muita raiva ou até muita tristeza, não existe nada melhor do que correr até que esse negócio pesado dentro de mim desapareça, é como se depois de correr mais de uma hora deixando tudo na rua ficasse sem fôlego para seguir com raiva ou tristeza. Concordo com Murakami quando fala que “Ao correr mais, é como se eu pudesse exaurir fisicamente essa parcela de meu descontentamento. Isso também me faz perceber mais uma vez quanto eu sou fraco, quão limitadas são minhas capacidades. Eu tomo consciência, fisicamente, desses aspectos de inferioridade. E um dos resultados de correr um pouco mais além do que normalmente corro é me tornar um pouco mais forte

Murakami começou a correr depois de vender um bar de Jazz que tinha em Tóquio para se dedicar à escrita. Ele gosta muito da música e corre escutando jazz ou rock. Lovin´Spoonful, Rolling Stons, U2, Red Hot Chili Peppers, Gorillaz, Beach Boys e Creedence Clearwater conformam suas preferências na hora de sair no jogging. Eu na verdade são melomaníaca (melomana) e menos previsível. Têm dias de sol e céu azul que mexem com um bom reagge do tipo Richie Spice, Jimmy Cliff, Peter Tosh, Bob Marley, Barrington Levi, Coffe Makers, Morodo, Lucky Dube ou Cidade Negra. Têm manhãs lindas com vento do sul batendo de frente no meu rosto e com maresia no ambiente que vão no ritmo de Calle 13, Sargento Garcia, Chocquibtown, Alika, Bomba Estereo, Skampida, K'naan, Amparanoia ou Ojos de Brujo. Têm tardes escuras de garoa que são boas para correr escutando Johnny Cash, Janis Joplin's, The Doors, Elis Regina, Def Leppard, Deep Purple, Legião Urbana, Cazuza, Radiohead, Titãs ou Engenheiros do Hawaii. Têm tardes de ocasos roxos e nostálgicos que ficam mais belos com Nando Reis, Teatro Mágico, Zeca Baleiro, Coldplay, R.E.M, Haggard, Led Zeppelin, Pink Floyd, Jorge Drexler, Souad Massi ou Gotan Project. Mas às vezes têm dias que preciso de uma ajuda extra, alguém ou algo que me ajude a colocar um pé após do outro e nesse momento nada melhor do que as 1280 Almas, Fito Paez, Orishas, O Rappa, Nubla ou Manu Chau.

Eu gosto também de outros esportes como a natação e o ciclismo, e tenho que dividir meu tempo para atender esses outros amores. Aqui em floripa só estou nadando, já que ainda não comprei uma bike. Gosto muito de nadar, mas na verdade a natação precisa de muitas coisas (de uma piscina para começar), então, concordo de novo com Haruki que tinha claro desde o primeiro dia que decidiu começar no mundo da corrida, que “correr tem muitas vantagens. Em primeiro lugar, você não precisa de ninguém mais para fazer isso, e não precisa de nenhum equipamento especial. Não precisa ir a nenhum lugar para fazê-lo. Contanto que disponha de um par de tênis de corrida e uma boa pista ou rua, pode continuar correndo enquanto sentir vontade”.

As sensações também são diferentes, nadar me traz uma sensação de tranquilidade, de calma infinita. Enquanto correr me liberta. Por alguns minutos sinto que eu posso fazer qualquer coisa, que posso chegar até qualquer lugar só usando meu corpo, que sou leve e consigo ir e ir até me perder no final do horizonte. Que sou parte da paisagem, da rua, do vento. Que só eu existo e ao mesmo tempo não são mais eu.  Esqueço -me de mim. Desacordo.

O escritor viaja pelo mundo e tem lugares fantásticos para o jogging: as ruas de Havaí, perto do rio Charles em Cambridge, no Central Park em Nova Iorque, na sua casa em Tóquio e em outras milhares de cidades que percorre cada ano. Eu me conformo com a Baia Sul, alias MINHA Baia Sul que sempre está cheia de pássaros e onde o cheiro de mar perambula entre os tiozinhos e tiazinhas que caminham pegados da mão com uma paciência milenária. Isso por enquanto porque adoro encontrar rotas novas para correr e paisagens novas nas quais posso me perder correndo.

Gostei muito do modo simples como Murakami descreve o que pensa quando corre, “penso” o mesmo que ele: “Muitas vezes me perguntam no que penso quando corro. Em geral, as pessoas que perguntam isso nunca correram longas distâncias. Sempre reflito sobre a pergunta. O que exatamente penso quando estou correndo? Não faço a menor ideia. Em dias frios, acho que penso um pouco sobre quanto está frio. E nos dias quentes, em como faz calor. Quando estou triste penso um pouco sobre a tristeza. Quando estou feliz, penso um pouco sobre a felicidade”. É tão simples como isso.

Gostei do livro, gostei da filosofia da corrida de Murakami. Como ele acho que eu sou correndo. E que espero correr mais, talvez correr uma meia maratona (sou realista e acho que uma maratona completa é demais gente), talvez correr uma meia cada ano, talvez passar os próximos 25 anos da minha vida correndo uma meia maratona por ano. Talvez, só talvez...


Comentários

  1. Eu gostaría de leer ese livro...!!!!!!!!!!!! Está bien escrito?? jejejejje. Estoy mamando gallo cno el portuñol. Entendí perfectamente tu reseña. Y sobre todo, me encontré reflejado en tus palabras. Todo lo que es correr, nadar montar en bici, es un ritual cada vez. Y como bien dices, es hacer parte de la montaña, del viento y de la ruta. Que corras siempre, que encuentres lugares para nadar y que una bici te espere a todo lugar donde vayas.

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  2. Eu gostaria de ler esse livro!! hahaha muy bien ese portunhol casi parece portugues. Te pense en algunos pasajes del libro, creo que te gustará leerlo. Me encanta cuando pasas por aqui. Un abrazo grande.

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  3. Nossa! Muito tri a tua resenha! Primeiro, o português está impecável, segundo eu não corro e fiquei com uma vontade louca de começar...
    "Muy bien, Laurita!Que bien hace un buen libro"!

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  4. Hahaha Lu que bom que tu gostaste. Y maravilloso que te dieran ganas de salir a correr, siempre hace bien correr. Besotes.

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  5. Anônimo6:28 PM

    Algunas veces correr no es la mejor salida, jiji. En todo caso puede ser un buen camino para encontrarla. Se sigue disfrutando de la columna periódica.

    ULA

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