Noite Sinistra
Há momentos da vida em
que tudo parece irreal, como se as coisas acontecessem lá fora, como
se um conjunto de imagens em movimento passassem pela frente dos
olhos, e a vida real não parece mas real nem vida mesmo, apenas um
conto que esta sendo contado por alguém de longe. Mas ainda quando a
gente sente que não faz parte desse conto, dessas imagens em
movimento, desse filme, quando as coisas fogem da realidade e parecem
ficção, ainda assim, é a vida e é real, e a gente esta nela,
embora quiséssemos que em algumas situações tudo fosse só um
filme, onde sempre há possibilidades de ligar as luzes e lembrar ou
esquecer da história.
Pois é, faz algumas noites eu assisti um filme de terror, um conjunto de imagens em movimento
passando na frente dos meus olhos, foi um filme sinistro e por mais
que eu tente não consigo ligar as luzes e esquecer da história, que
droga!.
Sexta à noite, eu estava
dançando num lugar muito legal aqui em Floripa, na rua das Rendeiras
na Lagoa da Conceição. Cezinha um grande poeta do Acre cantava seus
poemas junto com alguns dos músicos do projeto Nosso Samba. Bom
samba de raiz, cachacinha, algumas cervejas, parceiros de dança
cheirosos, gatos e com a melhor energia do mundo e vários amigos e
amigas de alto astral. Ali eu estava, vivendo, fazendo parte das
coisas, imbrincada com a realidade. Mas a música ao vivo acabou e o
cansaço da semana bateu com força. Mesmo sendo cedo e a festa
continuava, a gente decidiu ir para casa e descansar bem para
aproveitar direto os dias ensolarados e o céu azul que a previsão
do tempo prometia para o final de semana.
Voltamos de carro, uns
amigos tinham me oferecido carona para ir e voltar (impossível
rejeitar uma carona desse tipo né?) e tudo acontecia tranquilamente,
deixamos em casa uma amiga e estávamos todos no carro vindo para
casa onde eles iam me deixar. Pois é, chegamos no bairro onde eu moro
e entramos na servidão da minha casa, eles queriam me deixar na
porta da casa, mas eu fiz questão de que ficassem na entrada da rua,
já que era difícil dar volta no topo do morro da minha rua. Assim
que eu dei abraço, beijo e tchau para cada um e desci do carro, dei
uma olhadinha para o final da rua e encarei a subida como já fiz
muitas outras noites e madrugadas. Mas nesse momento começou aquele
filme de terror. Voltei quando escutei a voz de um cara ameaçando de
morte a minha amiga que dirigia e quando virei tinham dois guris
armados dos dois lados do carro, apontando direto na cabeça dos meus
amigos. Eles desceram e saíram rápido do carro. Nesse momento eu
nem conseguia entender o que era que estava acontecendo. Os guris
entraram no carro, deram volta acelerando demais e levaram o carro
deixando a gente ali no meio da noite e da rua solitária.
Sabe quando você só se
dá conta das coisas quando elas já passaram? Pois é tudo aconteceu
tão mas tão rápido que eu só entendi o que acontecia alguns
(vários) minutos depois. Ninguém ficou machucado (por sorte) e o
carro estava no seguro, mas alguma coisa escura entrou em cada um de
nós e agora alguns dias depois, eu não posso jogar fora de mim
aquela sombra. Voltei em casa uma hora depois e o filme ainda não
terminava, um monte de coisas passavam pelos meus olhos, mas eu já
não fazia parte daquela história e ainda de manhã com o sol lindo
entrando pela minha janela, eu não conseguia ligar as luzes e voltar á realidade.
Tudo bem que a vida esta
cheia de pequenos filmes de terror, e a maior parte das vezes, a
gente consegue se sair bem deles, mas jogar fora a sombra, caminhar
de novo sem medo, deixar para trás algumas imagens, ligar as luzes e
continuar a vida na boa, demora um pouco. Como cantam as 1280 Almas
“... necesito sol en mi alma el brillo del sol, le hace falta
brillo a mi alma el brillo del sol” pois eu vivo ao ritmo do
sol, por sorte Floripa esta mais ensolarada que nunca e ainda que
andando lento acho que “ya esta saliendo el sol, de atrás de
la montaña...” e a noite sinistra esta
indo embora, para ficar apenas aqui neste post como um filminho que
não gostaria de lembrar.
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