O Imprevisível


A vida é uma relação com o imprevisível, ela pode ser assumida de duas formas: ou pela maravilha ou pelo ressentimento, dizia Hannah Arendt. O mundo é imprevisível e a gente também é. Às vezes dá medo viver só de saber que não sabemos, nem poderemos saber o que vai acontecer. Outras vezes nos jogamos pela janela esperando que tudo aconteça de uma vez só. Ou passamos um longo tempo em que esquecemos o imprevisível da vida e até fazemos altos planos tentando manter tudo sob controle. Mas de repente enquanto você anda pedalando pela vida é atropelado sem explicação pelo imprevisível, e aí você lembra que a vida é assim, cheia de imprevisíveis atropelamentos.

Por mais que você planeje cada passo, cuide seu caminho, pense duas vezes, revise os pneus de suas rodas, e fique atento de tudo o que acontece no seu redor, nunca vai conseguir se resguardar, pois a vida, essa relação com o desconhecido, sempre tem algo novo para acrescentar, algo para lhe surpreender.

Preparada para pedalar
Domingo ensolarado, depois de várias semanas de chuva, não há nenhuma nuvem ameaçando o céu azul que cobre a ilha. Um ventinho gostoso chamando você sair para rua, pra viver fora, andar, pegar sol, ir para praia. Você pega sua bike, revisa os pneus, enche de água sua garrafinha, coloca protetor solar no seu corpo, faz uma seleção de músicas legais no seu MP3, põe o capacete e sai pedalando com aquele sorriso que só uma boa pedalada pode lhe dar. O destino... a ponta de Sambaqui, lá no norte da ilha.

Pedalar pela ilha é como viver, a cada esquina uma surpresa, caminhos que levam a diferentes destinos, encontros e desencontros, outros ciclistas solitários pedalando do lado da gente por um tempinho e com um pouco de esforço, persistência e coragem, boas recompensas.

O caminho a Sambaqui tem um pouco de tudo, às vezes é tranquilo e seguro graças à ciclovia, outras amedrentador, pela estrada movimentada cheia de carros apressados e do pouco espaço para transitar. Mas a paisagem é demais, especialmente quando você consegue chegar ao topo da subida depois do terminal de ônibus de Santo Antônio e desce até a praia sem tocar o freio sentido aquele cheiro de mar envolvendo seu espírito exaltado.

Desde ali até a ponta de Sambaqui você se mistura com a paisagem, se for de tarde, o por do sol lá no fundo sobre o continente esquenta seus ânimos e você parece uma sombra violácea mexida pelo vento, as aves e as ondas suaves que circulam pelo bairro todo. Você vê o que outros não veem e sente que pode conquistar o mundo de uma vez só e para sempre. É mágico. Sambaqui tem isso, parece um lugar feito de uma magia caribenha, mediterrânea mas tão brasileira...e quando você chega na ponta, lá no final e escuta o samba espontâneo saindo do Rancho do Neco, ali você sabe que o esforço valeu a pena e que tudo fez sentido.

Isso é a maravilha do encontro com o imprevisível. A pedalada da vida têm sempre coisas surpreendentemente maravilhosas.

Sambaqui


Mas nem tudo é mágico, maravilhoso e grato. O imprevisível atropela forte, muda tudo, acaba relacionamentos, traz enganos, gera tristezas, acarreta desconfianças, joga fora sonhos, e machuca de verdade. Você pode querer controlar tudo, deixar só as coisas boas virem a seu encontro, mas nem sempre sabe o que tem o mundo lá fora para lhe trazer, pode ser que enquanto você atravessa uma rua, ele vem e te atropela, literalmente te bate, te tira de cara contra o chão e te machuca. Vem o ressentimento? Depende de como você se levantar, podem doer as feridas, pode ficar cheio de roxos, pode inchar os joelhos e até pode sentir que nada faz sentido, e que o filho da @#$% bêbado que passou o sinal vermelho e lhe atropelou estragou tudo de um momento para outro.

Mas quando você conseguir se levantar, dar umas risadas, descobrir que continua vivo, que lá fora o dia continua ensolarado, sua bicicleta tem conserto e que só falta tempo, atenção e paciência para seu corpo melhorar, então lembre que o imprevisível só veio para falar, para dizer que aqui está ele, com toda sua força, que a vida é uma relação com ele e que sempre pode andar lhe atropelando.
A gente brincando no Hospital


Meu joelho sem fratura!!!
Mas não esquente, deixe o ressentimento para outro dia, seja paciente, tome as precauções necessárias, bote gelo no joelho, tome o medicamento sugerido e espere que em poucos dias você estará de novo na rua pedalando com aquele sorriso que só uma boa pedalada pode lhe dar. Mas pedale lembrando que a vida é uma relação com o imprevisível e que não tem como ser de outra forma. O legal é que com o imprevisível vem a maravilha e por ela todas as quedas valem a pena né? Mas devo disser ODEIO SER ATROPELADA.
Já em casa e até ganhei flores!!!

Comentários

  1. ownnnn querida.... espero possas melhorar bem rapidinho.... beijos

    ResponderExcluir
  2. Obrigada Juliancho, espero poder pedalar de novo antes de que se termine este ano...beijo!!!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

La Butaca Mágica

พบกันที่เมืองไทย - Encontrarse en Tailandia

Privilegios